quinta-feira, 12 de maio de 2011

E o lazer? Uma questão para o Guia de turismo.

Por Daniel Pinto Gomes*

Olá, ó mundo! Olá colegas e amigos do Quixadá! Venho neste texto expor um pouco sobre as ações e re-flexões que constroem a disciplina de Dinâmica e Lazer do curso de formação técnica em Guiamento turístico do Instituto Federal do Ceará – Campus Quixadá. Muito bem, como já venho colaborando com este site há algum tempo, convém (re) lembrar aos interessados que outras temáticas foram anteriormente desenvolvidas em Manifesto no/do lazer e Brinquedos da memória: o melhor da infância.

Com o início das aulas de Dinâmica e Lazer no semestre 2011.1, me pus a refletir sobre os conceitos e atividades desenvolvidas pela mesma disciplina no semestre anterior. Em forma de superação do que muitas pessoas podem pensar sobre a abordagem do lazer numa formação técnica, fomos à busca de ir além do saber-fazer clientelista, apontado por aqueles que almejam uma formação meramente “empreendedora”, tomando como objetivo principal condicionarmos criticamente nosso próprio olhar-pensar sobre o que-fazer revolucionário característico das atividades de lazer.

Fácil seria para o guia de turismo gritar em leilão e vender “alegria”, “diversão” e “aventura”, todos embrulhados para consumo fetichizado e alienado de nosso tempo livre (um direito social que nestes moldes, dura pouco, custa caro e tem somente provocado uma hegemonização das práticas de lazer). Lembro ainda da exclusão social dada por conta da comercialização e privatização do lazer e seus espaços. Shopping Center, Fast Foods, Coffee Break, Play-Grounds, enfim, já está tudo pronto, a nós resta à aplicação nas cadernetas de poupança e o consumo conforme incita a “cama elástica”.

E, há ainda alguns por aí que permanecem na comensurada ilusão de que quanto mais se comercializa mais “se cresce”, quanto mais mercadoria se tem mais se ganha, quanto mais é descartável o lazer mais se vende uma moda, confunde-se o progresso com o regresso, confunde-se o sujeitar-se com a emancipação, confunde-se inclusive produção e consumo. Antes de se vender é preciso se valorizar, antes de querer atrair é preciso se reconhecer, antes de tudo é preciso ter identidade comunitária. Mas, como aprofundar uma discussão sobre o lazer que o perceba, como queria Dumazedier, como um tempo de revolução cultural?

O guia de turismo com seus problemas de profissionalização, formação e responsabilidade social, estão nos servindo como mote de discussão na disciplina de Dinâmica e Lazer.

Em O direito à preguiça Paul Lafargue nos fala sobre o dogma desastroso do trabalho, sobre as “bênçãos” ao trabalhador causado pela carga excessiva de trabalho e ainda sobre as mazelas que se seguem a superprodução no trabalho. Disso ressurgimos, e quais as doenças oriundas do trabalho cotidiano dos guias de turismo? E, quais os prejuízos provocados às comunidades visitadas pela superprodução encomendada ao Guia de turismo?



Também temos tratado de diferenciar lazer e jogo, ou lazer e lúdico, caminhando rumo às classificações destas atividades. Entendendo o lazer como tempo-livre, como tempo de não-trabalho, se abriu margem para pensarmos no fim do dia, no fim de semana, nas férias e na aposentadoria, e, compreendendo o lúdico como a significação diferida entre a alegria, o divertimento e a tensão, como quer Huizinga, abrimos espaço para reconhecermos os jogos de competição, os jogos de apostas, os jogos de representações e os jogos de vertigem, apontados por Roger Caillois.

Discutimos, ainda, sobre a importância e os valores que podem repercutir para uma cidade a composição de um Sistema Urbano de Recreação. Com o fim de nossa primeira etapa, que considero uma base conceitual para nosso segundo momento, passaremos adiante com as discussões sobre planejamento de atividades de lazer para grupos de turistas. Oficinas de atividades lúdicas, seminários temáticos e analise das práticas de lazer da região, estão entre as ações planejadas.

*Graduado em Educação Física (UECE), Especializando em Cultura folclórica aplicada (IFCE) e mestrando em Educação brasileira (UFC). Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE - Campi Quixadá) atuando nas seguintes áreas: Lazer, Cultura e Educação Física. danielpintogomes@hotmail.com

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