sexta-feira, 25 de junho de 2010

Reflexões sobre a Aquisição da Linguagem e sua Importância

Por Nicolai H. Dianim

Embora determinadas ramificações das ciências linguísticas, como a neurolinguística, ainda tenham um longo a caminho a percorrer, os primeiros passos têm sido dados, especialmente no que diz respeito ao processo de aquisição da linguagem. Há, hoje, entre os estudiosos, um certo consenso de que a espécie humana, diferentemente de outras espécies animais, parece geneticamente programada para falar, e que esse processo parece seguir estágios bem organizados e progressivamente mais complexos, do balbuciar até a formação de pequenas frases.
Neste ponto, é de fundamental importância diferenciar língua e linguagem. Linguagem pode ser definida como faculdade de expressão e comunicação, através de signos convencionados – ou seja, pode ser visual, gestual, até mesmo tátil. A língua, por sua vez, é uma possível manifestação da linguagem, por meio de signos vocais ou escritos comuns a um povo, a uma cultura.
Caso não haja nenhum obstáculo ao desenvolvimento, nos primeiros anos de vida a criança terá condições de dominar plenamente a linguagem expressa no ato da fala. Mas falar para quê? Para quem? Por que falamos? Bakhtin (1987) defende a noção de inter-ação. Para ele, o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria realizar a não ser falando; com ela, o falante age sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não pré-existiam à fala.
Nesse sentido, o ato comunicativo deixa de ser visto apenas como transmissor de mensagens vazias e ritualizadas, segundo o estruturalismo de Jakobson (1970), e ganha status de instrumento de interação social, a partir do qual se torna possível a construção do conhecimento. Nas escolas, essa nova visão é essencial na redefinição dos papéis de professor e aluno, sobretudo na renovação do ensino de língua materna: estudar a norma culta sim, mas sem perder de vista o respeito aos falares coloquiais. Não há espaço em nossa sociedade para a perpetuação de mais um tipo de preconceito.

Referências:

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 2. ed. São Paulo : Hucitec / Petrópolis : Vozes, 1987.

JAKOBSON, Roman. Lingüística; poética; cinema. São Paulo: Perspectiva, 1970.