quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

I Colóquio das Montanhas Famosas do Ceará


DIA 13 DE DEZEMBRO DE 2011.
HOTEL BELAS ARTES - QUIXADÁ - CE.

Participação do Professor Joselito Brilhante com a palestra EMPREENDEDORISMO, SUSTENTABILIDADE E ORGANIZAÇÃO SOCIAL.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

COMÉRCIO DE ÁGUA BRUTA EM QUIXADÁ

Por Joselito Brilhante* e Rafael Abreu**

As companhias responsáveis pelo processo de distribuição de água em aglomerações urbanas costumam subdividi-las em setores de abastecimento para regularizar o fornecimento. Na cidade de Quixadá essa situação é recorrente até os dias atuais, em pleno século XXI, pela falta de políticas públicas de investimentos em adução, reserva e distribuição da água. Nessas condições, o abastecimento de água é feito através da retirada de água de poços profundos perfurados em diferentes localidades periféricas e distribuída por meio de carroças de tração animal. O trabalho foi realizado na cidade de Quixadá, na região do Sertão Central do Ceará, no período de setembro de 2010 a fevereiro de 2011. Inicialmente foi feita uma pesquisa identificando os carroceiros que faziam o transporte de água e, então, foram feitas entrevistas com um questionário contendo os seguintes questionamentos: número de viagens por dia, volume de água transportado, tipo de container utilizado, preço cobrado pelo litro de água, distância do ponto de coleta ao ponto médio de venda e a existência de alguma associação de carroceiros.. A água comercializada é transportada em carroças com reservatórios de madeira em formato de barril com capacidade de 800 litros ou em reservatórios plásticos com capacidade de 1.000 litros. Os carroceiros compram a água diretamente dos proprietários das áreas onde os poços estão perfurados ou de donos de caminhões pipa com o preço variando entre R$ 7,00 para reservatórios de 800 litros a R$ 9,00 para reservatórios de 1.000 litros. A venda ao consumidor final é feita em domicílio para abastecimento de cisternas, em latas com capacidade de 18 litros ao preço de revenda de R$ 0,50 a R$ 0,75, variando em função da distância e qualidade da água. São 99 carroceiros que transportam um volume médio de água comercializado de 116 mil litros diários. As distâncias percorridas pelos carroceiros variam em função do ponto de captação e o local de moradia do carroceiro. Quase todos optam por vender água em domicílios próximos do ponto de captação para reduzir custos com a manutenção do animal e pelo menor tempo operacional. A comercialização de água bruta na cidade de Quixadá é uma atividade intermediada, desregulamentada e de baixíssima lucratividade, mas que envolve muitas famílias e ainda se torna necessária pelo desabastecimento ou abastecimento inadequado da Cagece.

* Professor do IFCE - Campus Quixadá
** Aluno do Curso Tecnologia em Agronegócio (IFCE-Campus Quixadá)

domingo, 13 de novembro de 2011

Alunos apresentam suas pesquisas no INICIT-JR

Em Maracanaú, nos dias 09, 10 e 11 de novembro deste ano, realizaram-se os encontros de pesquisa do Instituto Federal do Ceará. Estudantes e pesquisadores dos Campi de todo o Ceará participaram de palestras e apresentações de trabalhos de vários níveis (ensino médio, graduação e pós-graduação).
Orientados pelos professores Alexandre Queiroz e Lucas da Silva, bolsistas de Iniciação Científica/JR do curso técnico de Guia de Turismo apresentaram os resultados de suas pesquisas financiadas pela FUNCAP e pelo Campus Quixadá. Os alunos Haulivan Ferreira, Daniel de Oliveira, Fabrícia Costa e Fiama Barbosa pesquisam temas variados: gestão dos recursos hídricos no semiárido, potencial turístico da paisagem do Sertão Central, e a geografia do Centro Urbano de Quixadá.
Os alunos demonstraram grande esforço e bom desempenho durante toda a pesquisa. Os mesmos consideram essa oportunidade fundamental para a ampliação dos horizontes da sua formação técnica.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Informação, saber ou experiência?

Resenha do texto do autor Bondía, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. Campinas, pp. 20-31, 2002.

Por Débora Garcia

Em seu texto, Notas sobre a experiência e o saber de experiência (2002), Jorge Larrosa Bondía referencia o homem como um ser de informação e saber, dotando-lhe de uma condição de um ser que vive e estabelece vínculos diversos. Um modo de ser daquele sujeito como realidade concreta, referenciando-lhe como medida de uma vivencia que se estabelece a partir dos saberes quer científicos ou empíricos que objetivam a vida, o trabalho e a expressão, contudo sem necessariamente convocar elementos da experiência.
Diariamente buscamos compreender objetivamente os processos que nos rodeiam. Recebemos as informações, refletimos sobre estas e cunhamos nossas opiniões. Desta forma, nos posicionamos frente as mais diversas questões: econômicas, ambientais, religiosas, políticas, sociais, familiares, pessoais etc.
Contudo, por vezes parece que ao opinar nossos posicionamentos não passam de mera retórica, um texto criado ou um “já ouvi isto antes”. Assim dar o parecer não é somente raciocinar, exprimir ou argumentar, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que falamos e ainda ao que somos e ao que nos acontece. E isto, requer de nós, sujeitos racionais, bem mais que palavras, informações e saberes uma vez que perpassa pela experiência (ou deveria).
Bondía (p. 28) considera que a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia ocorrem inúmeros fatos, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Walter Benjamin (1991) já observava a pobreza de experiências que caracteriza o nosso mundo contemporâneo. Dir-se-ia que tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça. Nunca se passaram tantas coisas, mas atualmente a experiência é cada vez mais rara.
Por certo, esta raridade se dá devido aos excessos de informação, a incessante busca pelo saber (saber não no sentido de sabedoria, mas no sentido de estar informado e assim expor aos outros como forma de poder); aos excessos de opiniões supostamente próprias, que na verdade, geralmente convertem em imperativos; e finalmente, devido a falta de tempo uma vez que tudo o que se passa, passa demasiadamente depressa, cada vez mais rápido. E com isso se reduz ao estímulo fugaz e instantâneo. O sujeito da atualidade não só está informado e opina, mas também é um consumidor voraz e insaciável de notícias, de novidades, um curioso eternamente insatisfeito. Ao sujeito do estímulo, da vivência pontual, tudo o atravessa, tudo o excita, tudo o agita, tudo o choca, mas nada lhe acontece. (Bondía, p.24)
Desta forma, o que conseguimos é que nada ou muito pouco nos aconteça...enquanto experiência. Senão, vejamos: Depois de assistir a uma aula ou a uma conferência, depois de ter lido um livro ou uma informação, depois de ter feito uma viagem ou de ter visitado uma cidade, podemos dizer que sabemos coisas que antes não sabíamos, que temos mais informação sobre alguma coisa; mas, ao mesmo tempo, podemos dizer também que nada nos aconteceu, que nada nos tocou, que com tudo o que aprendemos nada nos sucedeu ou nos aconteceu.
No entanto, preciso dizer que não perdemos a capacidade de experenciar. Apenas a preterimos por outras induções, neste texto, acima listadas. A experiência é em primeiro lugar um encontro ou uma relação com algo que se experimenta, que se prova a partir de um ser receptivo, aberto, disposto a conhecer o perigo. E o perigo está em, fundamentalmente, saber mediar o saber cientifico, tecnicista, do trabalho e da vida humana para além dos valores utilitaristas, hoje rotineiramente experimentados. (Bondía, p.27)
Por isso, o saber da experiência é um saber particular, subjetivo, pessoal. Não devemos captá-lo aos olhos da racionalidade. A experiência não é o que acontece, mas o que nos acontece. Duas pessoas, ainda que enfrentem o mesmo acontecimento, não fazem a mesma experiência. O acontecimento é comum, mas a experiência é singular e de alguma maneira impossível de ser repetida. O saber da experiência é um saber que não pode separar-se do indivíduo. (Bondía, p.29)
Concluindo, cabe a cada um de nós, sujeitos racionais, no diário combate entre nós e o mundo, preferimos o mundo. Optando não pelo sujeito perfeccionista, ereto, seguro de si, anestesiado. Pelo contrario, resgatando nossas fragilidades, valores e virtudes outrora tão enaltecidos em nossa historia. Atravessados por informações, saberes e experiências precisamos verdadeiramente travar nossas lutas frente às questões: econômicas, ambientais, religiosas, políticas, sociais, familiares, pessoais etc. E a partir daí então, emitir nosso parecer e agir de maneira mais efetiva frente a todas as questões da vida.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Museus, Patrimônio Cultural e Turismo: conexão possível e desejada.

Por Aterlane Martins

O título deste breve texto é apenas uma indicação da temática que pretendo abordar nesta e nas publicações seguintes que farei em nosso blog; se, contudo, salto à sequência iniciada nos textos anteriores sobre as políticas de patrimonialização dos bens culturais no Brasil (Tombamento e Registro) e inicio um novo capítulo, de algum modo, mantenho as conexões com o tema do patrimônio cultural.


No vasto campo do Turismo, seja como disciplina acadêmica, seja como prática profissional ou atividade econômica, aquele segmento denominado “turismo cultural” é o que certamente considera o potencial do Patrimônio Cultural e mais especificamente dos Museus como indutores de destinos turísticos, portanto o nosso foco.
Devo fazer algumas considerações sobre os Museus, sem, contudo, alongar-me neste campo cultural especifico, a fim de tangenciar os diversos aspectos de sua natureza múltipla: campo de estudos, de prática profissional e de desenvolvimento sócio-econômico através da cultura – porquê, não? Afinal, esta tem sido a perspectiva mais acertada da política museal que vem sendo implantada no Brasil nesta última década.
Por definição, segundo o Conselho Internacional de Museus – ICOM, o museu é:
“uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberto ao público, voltado à pesquisa dos testemunhos materiais do homem e de seu entorno, que os adquire, conserva, comunica e, notoriamente, expõe, visando a estudos, à educação e ao lazer”.
Partindo desta definição reforçamos nosso entendimento que o museu pode ser instrumento indutor do turismo, como já vimos afirmando. Nosso primeiro ponto de apoio é afirmar que o aspecto cultural, o educativo e o lúdico podem ser amplamente explorados, sempre em via de mão dupla (sociedade local – turistas), com vistas à qualificação da oferta turística.

Para o turista, e antes deste para os operadores do Turismo, o museu pode e deve ser visto como atrativo em seu planejamento de viagem – ou no pacote ofertado. Essa opção certamente enriquece a oferta, visto que os museus podem satisfazer diversas necessidades do público que os visita como, proporcionar momentos de educação, entendida aqui como aprendizado não-formal, aquele que satisfaz a sede de conhecimento extra-curricular, que se vincula ao cotidiano e à realidade pessoal do indivíduo.
Uma visita ao museu pode possibilitar um conhecimento mais abrangente sobre a realidade local a qual se visita, e isto é indispensável à satisfação do turista que tem finalidades culturais. Este pode ser um ponto de partida para uma exploração justa e consequente do território.
Ademais, o museu pode proporcionar momentos de deleite ao seu público, seja apenas pela contemplação das obras expostas ou pelos serviços específicos que ele oferece. Este é um ponto interessante para se abrir a reflexão sobre esta desejável e possível conexão entre museus e turismo. O campo é amplo e está aberto às nossas especulações. Este é justamente o objetivo de nosso próximo texto.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Se essas ruas fossem nossas...

Por Alexandre Queiroz Pereira

A cidade é lugar privilegiado para o exercício da cidadania. Todavia, o virtual está bem distante do real. Um dos primeiros indicadores desta perversão teórica e legal se mostra ao analisar o uso e a apropriação dos espaços públicos nas cidades cearenses.
Mesmo reguladas por leis e fiscalizadas por instituições, as praças, as calçadas, e os parques são continuamente apropriadas por atividades que restringem o livre acesso a pequenos grupos. As leis, como mencionado, existem: Estatuto das Cidades, plano diretor, lei de uso e ocupação do solo, código de obras e posturas. As municipalidades, principais responsáveis pela fiscalização e manutenção, em maioria são inoperantes, aguardam pacientemente a depredação do patrimônio público ou, com mais tolerância ainda, observam a “privatização” dos espaços. A situação tem se repetido a tal ponto que os cidadãos, afastando-se dos seus direitos, começam a acostumar-se, acreditando na pseudonormalidade desta situação.
Henri Lefebvre, filósofos francês, já nos 1960, avisou: para uma sociedade melhor, é urgente que o direito à cidade seja amplo e irrestrito. O pensador acreditava no papel lúdico dos espaços citadinos, demarcando a rua como lugar da Festa. Para ele, Festa é sinônimo de liberdade, de cultura, de movimentação popular. Isso é a Festa.
Na atualidade, a conquista dos espaços públicos e a sua abertura a apropriação popular é um bom caminho para revermos nossos conceitos de cidadania e participação.

sábado, 25 de junho de 2011

Unidades de Conservação e o Desenvolvimento Sustentável

Por Ana Cristina Fernandes Muniz*

Os recursos naturais são cada vez mais utilizados, a fim de proporcionar conforto e qualidade de vida para as diversas sociedades. Atualmente, busca-se a proteção destes, com o objetivo de proteger os recursos bióticos, bem como conservar os recursos físicos e culturais é nessa perspectiva que se utiliza as Unidades de Conservação (UCs) para a conservação dos recursos naturais existentes em determinado meio biótico.
Ao falarmos em Unidades de Conservação, se percebe que sempre vem a nossa mente um lugar qualquer com características naturais e de rara beleza. Afinal de contas, conceitualmente, o que define uma Unidade de Conservação. Conceitualmente falando, UCs são: “Áreas criadas por Lei com o objetivo de proteger o meio ambiente, podem ser terrestres, marinhas e estão na esfera federal, estadual e municipal”.
Historicamente a primeira Unidade de Conservação criada foi o Parque Nacional de Yellowstone, no estado de Wyoming nos Estados Unidos em 1872. Nessa época valorizava-se a natureza a partir de uma noção de pertencimento e também de prazer da contemplação estética. Depois de Yellowstone apareceram muito outros também alinhados na mesma concepção preservacionista da natureza.
Nesse período, na Europa, como era quase impossível falar de áreas virgens, os parques foram instituídos para a pesquisa da fauna e flora. Em princípio não havia uma definição totalmente aceita do que deveriam ser os objetivos dos parques nacionais, porém em 1933 em uma convenção em que participaram os principais países europeus (Portugal, França, Inglaterra, Alemanha, Itália e outros) estes objetivos foram traçados: Áreas controladas pelo poder público; Áreas para a preservação da fauna e flora, objetos de interesse estético, geológico, arqueológico onde a caça era proibida; Áreas para visitação pública.
Foi Rebouças entre 1893-1898 que se tornou pioneiro no Brasil na criação de Unidades de Conservação e se inspirou no Parque de Yellowstone (EUA) para criar Parques Nacionais no Brasil. Com o Código Florestal de 1934 se estabeleceu o marco legal da criação dos Parques Nacionais, o mesmo sendo revogado pelo Código Florestal de 1965. Essa Lei trabalhou com os conceitos de Parques Nacionais e Reservas Biológicas (de proteção integral) e florestas nacionais (para uso sustentável), e instituiu alguns conceitos básicos, como: Áreas de Preservação Permanente / APP e Reserva Legal / RL.
Foi em 1937 as UCs surgiram com os mesmo objetivos dos parques americanos, ou seja, os de proteger áreas consideradas virgens e de grande beleza paisagística para o deleite dos seus visitantes. Assim, o primeiro Parque Nacional foi oficialmente instituído em 1937 e se chamou Parque Nacional do Itatiaia.
No Brasil a Lei Federal n° 9985/2000 instituiu o SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação que, vem de encontro à regulamentação do Art. 225, § 1º, incisos I, II, III e IV da Constituição Federal. Neste sistema conceituam-se como Unidades de Conservação como um “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais com características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo Poder Público”. Encontram-se divididas em duas categorias: Unidades de Conservação de Proteção Integral e Unidades de Conservação de Uso Sustentável.
As Ucs de Proteção Integral tem na conservação da biodiversidade como principal objetivo, e possibilidade de uso indireto. Nesse caso, é proibido o uso dessas áreas para habitação, sendo permitidas apenas pesquisas científicas e o turismo ecológico controlado e são cinco categorias: Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural; Refúgio de Vida Silvestre.
Com relação às Ucs de Uso Sustentável nelas, se permitem formas de utilização dos recursos naturais, ou seja, uso direto da natureza, com a proteção da biodiversidade como objetivo secundário. Nessas áreas, procura-se manter os indivíduos residentes nas áreas, mas desenvolvendo formas de uso sustentável dos recursos e são em número de sete: Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável; Reserva Particular do Patrimônio Natural.
Conforme previsto em Lei somente o legislativo tem o poder de diminuir as dimensões de uma unidade de conservação apesar, dá ao povo o direito de opinar sobre criação dessas Unidades de Conservação, porém o direito de diminuí-las ou extinguí-las fica a cargo dos governantes.
Não resta a menor sombra de dúvidas que os conceitos e as formas de gestão das unidades de conservação evoluíram muito de alguns tempos até hoje, paralelamente as discussões a cerca do que é a Sustentabilidade Ambiental. As UC’s se apresentam como essenciais na busca pela preservação dos recursos naturais e surgem como uma ferramenta para projetos de educação ambiental e pesquisas científicas que desejam trabalhar de forma interdisciplinar fato este, que pode levar a sustentabilidade dessas unidades e não comprometer os recursos naturais existentes nessas áreas para, que a futuras gerações possam desfrutar desses bens naturais. Entretanto, para isso, precisam receber atenção e recursos devidos.

*Professora do IFCE – Campus Quixadá - Coordenação de Engenharia Ambiental - Doutoranda em Geografia (UFC) - Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFC).

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Uma aula de cultura e ecologia em Quixadá



Publicado originalmente no sitio www.ifce.edu.br

O campus de Quixadá promoveu, nos dias 3 e 6 de junho, a IV edição do projeto Ecotrilhas. O primeiro dia do evento foi realizado na Fazenda Não me Deixes, onde morou a escritora cearense Rachel de Queiroz, no distrito de Daniel de Queiroz. Na atividade, 20 alunos do segundo semestre do curso técnico em Guia de Turismo conduziram outros 20 novatos do mesmo curso e, aproximadamente, 50 estudantes da Escola de Ensino Fundamental Francisca Teixeira, do distrito de Califórnia, por trilhas ecológicas na fazenda.

No segundo dia, foram percorridos caminhos urbanos pelo Centro de Quixadá. Entre os locais visitados, estiveram a Catedral Municipal, ruas históricas da cidade, a Praça José de Barros e o Memorial Rachel de Queiroz, localizado no Chalé da Pedra. A atividade integra a programação de aniversário do IFCE Quixadá, que completa três anos de fundação oficial no próximo dia 10 de junho.

Segundo o professor e geógrafo Alexandre Queiroz Pereira, um dos coordenadores do evento, o Ecotrilhas combina as dimensões de ensino e extensão, ao treinar futuros guias de turismo e, ao mesmo tempo, envolver alunos das escolas públicas, geralmente de baixa renda.

A estudante Samarya Dantas, 12, da 8ª série da Escola Francisca Teixeira, foi uma das mais empolgadas ao conhecer a fazenda e a coleção de livros da romancista. “Achei a visita muito inspiradora, a casa dela incentiva a gente a escrever”, empolgou-se. “Vou sair daqui mais inspirada”, confessou a adolescente, dizendo gostar de “inventar histórias”.

Imagem: Alunos conhecem casa onde morou Rachel de Queiroz (foto: Ícaro Joathan)

Ícaro Joathan - campus de Quixadá

quarta-feira, 25 de maio de 2011

DA CRISE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Por Lucas da Silva

A sociedade atual passa por uma profunda crise civilizatória de caráter ambiental, provocada pela relação desastrosa entre a sociedade e o ambiente. Com seu desenvolvimento petardo, a sociedade tem provocado cenários de escassez dos recursos naturais e de impactos ambientais profundos, comprometendo a sadia qualidade de vida da atual e das futuras gerações.
Segundo cálculos da pegada ecológica (refere-se à estimativa do tamanho das áreas produtivas de terra e de mar, necessária para gerar produtos, bens e serviços que sustentam o estilo de vida de cada um de nós), a humanidade está usando os recursos naturais renováveis 21% mais rápido do que a Terra leva para renová-la. Com esse quadro, seriam necessários os recursos de 1,21% planetas Terra para sustentar indefinidamente nossa produção e consumo atuais de recursos renováveis. Se continuarmos com esse ritmo de consumo e com a exploração excessiva dos bens naturais, chegaremos a um colapso ambiental.
A pergunta fundamental é: há como evitar esse eminente colapso ambiental? A resposta é simples: sim! Para isso, temos que repensar nossos valores e atitudes, e criarmos uma cultura preservacionista e conservacionista, cunhando hábitos e valores que visem o uso sustentável dos recursos naturais com solo e água, que consistem nos bens de produção, seja nos espaços urbanos ou rurais. Estabelecer uma cultura ambiental é criar novos mecanismos de adaptação cultural, que nos permitam voltar a um ponto de relação harmônica ente natureza, ou seja, um ponto de equilíbrio, que tínhamos anteriormente.
No entanto, para Rodriguez & Silva (2009), o mais importante instrumentos de adaptação cultural é a Educação, pois só ela permite transmitir as características fundamentais da cultura, das técnicas e tecnologias vitais para a sociedade, encaminhada, deste modo, assimilar as normas e conteúdos básicos para consolidar a cultura. É com a educação que conheceremos, descobriremos novos sentimentos, valores, idéias, costumes e papéis sociais.
A educação ambiental é um processo de aprendizagem relacionada à interação entre o homem e seu espaço, através de conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do seu meio. Visa também formar valores ambientais, ou ainda, “valores verdes” contrapondo aos atuais valores da modernidade.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, no ambiente escolar o aluno deve perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente, sendo este o mais propício para a prática da Educação Ambiental. A Política Nacional de Educação Ambiental (E.A.) prevê obrigatoriedade da inclusão do ensino da E.A. no ensino regular de todos os níveis e modalidade de ensino, seja como disciplina regular ou de forma transversais.
No entanto, como preconiza a concepção da educação ambiental ético-social, não basta só os conhecimentos da educação formal, como também aqueles adquiridos fora da escola, ou seja, em seu meio de convivência, transformando-se em indivíduos críticos, capazes de entender e transformar o mundo e a sociedade. Através de pequenos gestos e “práticas verdes”, como por exemplo: reduzir a produção do seu lixo, economizar água e energia, não adquirir produtos ou equipamentos com alta capacidade de polir, você estará praticando a Educação Ambiental.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

E o lazer? Uma questão para o Guia de turismo.

Por Daniel Pinto Gomes*

Olá, ó mundo! Olá colegas e amigos do Quixadá! Venho neste texto expor um pouco sobre as ações e re-flexões que constroem a disciplina de Dinâmica e Lazer do curso de formação técnica em Guiamento turístico do Instituto Federal do Ceará – Campus Quixadá. Muito bem, como já venho colaborando com este site há algum tempo, convém (re) lembrar aos interessados que outras temáticas foram anteriormente desenvolvidas em Manifesto no/do lazer e Brinquedos da memória: o melhor da infância.

Com o início das aulas de Dinâmica e Lazer no semestre 2011.1, me pus a refletir sobre os conceitos e atividades desenvolvidas pela mesma disciplina no semestre anterior. Em forma de superação do que muitas pessoas podem pensar sobre a abordagem do lazer numa formação técnica, fomos à busca de ir além do saber-fazer clientelista, apontado por aqueles que almejam uma formação meramente “empreendedora”, tomando como objetivo principal condicionarmos criticamente nosso próprio olhar-pensar sobre o que-fazer revolucionário característico das atividades de lazer.

Fácil seria para o guia de turismo gritar em leilão e vender “alegria”, “diversão” e “aventura”, todos embrulhados para consumo fetichizado e alienado de nosso tempo livre (um direito social que nestes moldes, dura pouco, custa caro e tem somente provocado uma hegemonização das práticas de lazer). Lembro ainda da exclusão social dada por conta da comercialização e privatização do lazer e seus espaços. Shopping Center, Fast Foods, Coffee Break, Play-Grounds, enfim, já está tudo pronto, a nós resta à aplicação nas cadernetas de poupança e o consumo conforme incita a “cama elástica”.

E, há ainda alguns por aí que permanecem na comensurada ilusão de que quanto mais se comercializa mais “se cresce”, quanto mais mercadoria se tem mais se ganha, quanto mais é descartável o lazer mais se vende uma moda, confunde-se o progresso com o regresso, confunde-se o sujeitar-se com a emancipação, confunde-se inclusive produção e consumo. Antes de se vender é preciso se valorizar, antes de querer atrair é preciso se reconhecer, antes de tudo é preciso ter identidade comunitária. Mas, como aprofundar uma discussão sobre o lazer que o perceba, como queria Dumazedier, como um tempo de revolução cultural?

O guia de turismo com seus problemas de profissionalização, formação e responsabilidade social, estão nos servindo como mote de discussão na disciplina de Dinâmica e Lazer.

Em O direito à preguiça Paul Lafargue nos fala sobre o dogma desastroso do trabalho, sobre as “bênçãos” ao trabalhador causado pela carga excessiva de trabalho e ainda sobre as mazelas que se seguem a superprodução no trabalho. Disso ressurgimos, e quais as doenças oriundas do trabalho cotidiano dos guias de turismo? E, quais os prejuízos provocados às comunidades visitadas pela superprodução encomendada ao Guia de turismo?



Também temos tratado de diferenciar lazer e jogo, ou lazer e lúdico, caminhando rumo às classificações destas atividades. Entendendo o lazer como tempo-livre, como tempo de não-trabalho, se abriu margem para pensarmos no fim do dia, no fim de semana, nas férias e na aposentadoria, e, compreendendo o lúdico como a significação diferida entre a alegria, o divertimento e a tensão, como quer Huizinga, abrimos espaço para reconhecermos os jogos de competição, os jogos de apostas, os jogos de representações e os jogos de vertigem, apontados por Roger Caillois.

Discutimos, ainda, sobre a importância e os valores que podem repercutir para uma cidade a composição de um Sistema Urbano de Recreação. Com o fim de nossa primeira etapa, que considero uma base conceitual para nosso segundo momento, passaremos adiante com as discussões sobre planejamento de atividades de lazer para grupos de turistas. Oficinas de atividades lúdicas, seminários temáticos e analise das práticas de lazer da região, estão entre as ações planejadas.

*Graduado em Educação Física (UECE), Especializando em Cultura folclórica aplicada (IFCE) e mestrando em Educação brasileira (UFC). Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE - Campi Quixadá) atuando nas seguintes áreas: Lazer, Cultura e Educação Física. danielpintogomes@hotmail.com

domingo, 24 de abril de 2011

ECOTRILHAS - 4ª EDIÇÃO!!!!!

Por Francisca Góis

O Projeto Ecotrilhas: caminhos de Quixadá chega a sua quarta edição em 2011. Desta vez a proposta é estender a experiência aos alunos que estudam fora do centro de Quixadá, por isso os participantes serão alunos da Escola de Ensino Fundamental Francisca Teixeira situada no Distrito de Califórnia. Outro diferencial está no roteiro ecológico do Projeto. Nas edições anteriores esse trecho era realizado no entorno do Açude do Cedro, nesta edição prestigiaremos a oferta de atrativos naturais existentes nas proximidades da Escola. Neste caso, visitaremos, no Distrito vizinho de Daniel de Queiroz, a Fazenda Não me Deixes onde viveu Raquel de Queiroz, atualmente Reserva Particular do Patrimônio Natural.

O roteiro urbano continuará contemplando o centro urbano de Quixadá, porém com um olhar cada vez mais aguçado sobre a dinâmica do centro da cidade. O evento acontecerá no período da manhã dos dias 03 de junho (roteiro ecológico) e 06 de junho (roteiro urbano) e envolverá entre alunos e professores do Ensino Fundamental e Técnico, cerca de 80 pessoas. A condução será responsabilidade dos alunos do segundo semestre do Curso Técnico de Guia de Turismo do Instituto Federal campus de Quixadá, supervisionado pelos professores do curso: Alexandre Queiroz, Francisca Góis e Lucas da Silva.

domingo, 3 de abril de 2011

TOMBAMENTO: A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE VIÇOSA DO CEARÁ

Escrito por Mirza Araújo Mapurunga(1) e Amaury Gurgel Neto(2)

Viçosa do Ceará encontra-se em meio a um santuário ecológico e se destaca por sua natureza exuberante caracterizada por belas paisagens associada ao seu agradável clima de serra. A cidade não é só conhecida por seus atrativos naturais, mas também pelo seu conjunto de edificações que datam do final do século XIX e inicio do século XX, o que levou ao tombamento do seu sítio histórico em agosto de 2003, sendo o quarto sítio histórico tombado no Ceará.
Nesse contexto Paiva (2004), destaca a beleza de suas ruas e de seus casarões, a riqueza de sua igreja matriz e muitas outras edificações que foram conservadas e nos mostram como viviam as gerações passadas, ressaltando que esta é um importante exemplar desta época.
O tombamento vem configurar o reconhecimento do valor de um bem, onde este represente valor histórico - cultural para a comunidade, protegendo-o de descaracterização ou destruição. O bem antes de ser considerado tombado passa por criteriosos estudos acerca do seu valor histórico. Detectada a sua importância e excepcionalidade, passa a ser registrado no Livro de Tombo onde constam os bens materiais e imaterias que representem significativo valor histórico, artístico, paisagístico ou simbólico.
O processo de tombamento pode ser feito através de três meios: pela União através do IPHAN, pelo Estado e pelo Município. A Constituição de 1988 estabelece a descentralização administrativa no que se relaciona a preservação e proteção do patrimônio cultural brasileiro. Como nos esclarece Castro (2009), o tombamento é um ato administrativo no qual a competência para exercê-lo foi designada por lei a órgãos específicos do Poder Executivo, como esta prevista no Decreto-lei 25/37.
O tombamento do seu sítio histórico foi realizado através de extensa pesquisa, que resultou num processo de quatro volumes intitulados: Viçosa do Ceará - Estudo para Tombamento Federal. O primeiro volume refere-se ao estudo do conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade, no segundo foi realizado um levantamento fotográfico, o terceiro resultou num inventário de 21 imóveis e o quarto destes foi dedicado aos perfis das quadras.
Algumas ações devem ser geridas para que se possa realizar um trabalho de preservação contínuo e tendo a comunidade local como agente imprescindível nesse processo. Para isso deve-se desenvolver uma educação patrimonial, para promover a valorização e a preservação do Patrimônio Histórico da cidade, onde busque levar a crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens e propiciando as gerações seguintes o conhecimento de suas raízes e de sua identidade cultural; esclarecer de forma mais explicita as implicações que acompanham o tombamento e fortalecer os benefícios que esta ação poderá trazer, e promover o desenvolvimento da atividade turística local em consonância com a realidade de suas potencialidades, como se observa nas cidades históricas mineiras que apresentam um turismo histórico consolidado.
A percepção é que as lacunas existem, mas podem ser preenchidas com ações integracionistas e esclarecimentos acerca das medidas tomadas no intuito de preservar e conservar o patrimônio histórico cultural da cidade, que esta diretamente relacionada à identidade de seu povo.

(1) Bacharel do Curso de Turismo da Faculdade Integrada do Ceará-FIC, mi_mapurunga@hotmail.com
(2) Bacharel em Turismo pela Universidade de Fortaleza; Mestre Negócios Turísticos pela Universidade Estadual do Ceará e Universidade de Barcelona; Professor da Faculdade Integrada do Ceará – FIC e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. amaurygurgel@ifce.edu.br

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTRO, Sônia Rabelo de; O Estado na preservação de bens culturais. Rio de Janeiro: IPHAN, 2009.
IPHAN; Viçosa do Ceará Estudo para Tombamento Federal Vol. 1 Fortaleza: IPHAN, 2002.
IPHAN; Viçosa do Ceará – Estudo para Tombamento Federal Vol. 3 Fortaleza: IPHAN, 2002.
PAIVA, Olga Gomes; LINHEIRO, Domingos Cruz; JUNIOR, Romeu Duarte. Viçosa do Ceará: patrimônio de todos: roteiro para preservação do Patrimônio Cultural. Fortaleza: IPHAN, 2004.

sábado, 12 de março de 2011

Estudo qualitativo sobre as viagens turísticas na contemporaneidade (Resultados da pesquisa)

Débora Garcia, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (campus Quixadá) recentemente apresentou para comunidade acadêmica os resultados da pesquisa que teve como objetivo investigar o sentido da experiência das viagens para turistas em fruição de pacotes turísticos em viagem de cruzeiro marítimo pelo roteiro Fernando de Noronha. Através da pesquisa, a autora buscou ainda investigar o que configura turismo no contexto da sociedade contemporânea; determinar os sentidos que o turista concede às suas viagens no momento presente; e expor as possibilidades subjetivas das viagens turísticas com base nas potencialidades de ócio para os sujeitos da pesquisa.

A questão central da análise executada acerca do sentido da experiência das viagens para turistas em fruição de pacotes turísticos reflete-se nos variados comportamentos assumidos pelos sujeitos, dentre eles, em relação às práticas de lazer experienciadas pelos turistas em meio ao exacerbado consumismo contemporâneo, não só em âmbitos comerciais, mas também relacionais. Desde o momento anterior à viagem, quando os sujeitos normalmente não agem de maneira autônoma, tomando para si os sentidos de seus lazeres, passando pela escolha dos destinos, frequentemente direcionados pelo mercado das viagens, denotado nos glamorosos ambientes e espaços físicos, até o comportamento dos turistas nas viagens, constantemente, são refletidas posições que permeam as dimensões diversão, entretenimento, consumo, experenciar novidades e fuga do cotidiano.

Como resultados, constatou-se que a privação de autonomia mediante as experiências de viagem por parte dos sujeitos da sociedade contemporânea pode contribuir para a vulgarização do sentido essencial da viagem turística, uma vez que, pelas vivências experimentadas em pacotes turísticos, os resultados observados frequentemente demonstram-se perpassados por lógicas utilitaristas e consumistas.

Evidencia-se nos estudos de Bauman (1998), a existência de aspectos característicos da contemporaneidade, os quais compõem sinais próprios de nosso período histórico, a saber: identidades fluidas, consumo abundante, hedonismo, relativismo dos valores morais e frivolidade existencial. Corroborado ainda por Lipovetysk (2007), que por sua vez elenca aspectos da mercantilização dos modos de vida, a dinâmica de expansão das necessidades se prolonga, ou seja, multiplicidade das experiências, onde o bem-estar se tornou uma paixão de massa por meio de consumidores com características individualistas, identidades transitórias, numa ilimitada busca de satisfações emocionais imediatas e inovadoras. A lógica de consumo dissipa-se nas relações culturais, laborais, políticas, nas relações dos homens contemporâneos, em seus lazeres, nas suas viagens e nos mais diversos âmbitos de sua vida.

O pressuposto inicial lançado sobre o presente estabelecimento de um mercado das viagens que define, organiza, formata e homogeneíza a experiência turística, confirmou-se tanto por meio das falas dos turistas entrevistados, como por intermédio dos dados apresentados visto que identificou-se diversos viajantes do cruzeiro marítimo, seduzidos não pelas possíveis experiências, mas pelas inúmeras opções ofertadas pelo mercado, assim limitando a noção de liberdade à reposição de energia para voltar ao trabalho, e ainda um tempo livre perpassado por inúmeras atividades de consumo isento de autonomia, vontade e momentos de autopercepção.

Com referência aos sentidos que os sujeitos concedem à experiência de suas viagens, questão norteadora da pesquisa, evidenciou-se respostas que estão na dimensão do mercado das viagens: vivenciar novidades; realizar viagem em cruzeiro marítimo para Fernando de Noronha; desligar do cotidiano vivido; despreocupar, descansar e momento inesquecível, interessante, sensacional. O turismo, deste modo, constitui o seu paradigma social e sociológico atual, a forma de viagem dominante nas sociedades pós-modernas - a viagem, portanto, se reduzindo ao fenômeno turismo.

Em contraposição, mesmo diante de tantas observações de comportamentos funcionalistas e utilitaristas, constatou-se na viagem necessidades de interação e, também, momentos de contemplação na proa do navio, local afastado dos espaços onde ocorriam as atividades de entretenimento e consumo. Considerando que interagir e contemplar se configuram virtudes relevantes das viagens turísticas e que dificilmente voltamos iguais das viagens, visto que por meio delas nos é propiciado tornar mais tolerantes, sábios e menos individualistas. As viagens turísticas constituem um instrumento adicional de aprendizagem, talvez a forma mais forte e vigorosa de aprender, é uma forma lúdica de conhecer, aprender, refletir e daí acessar a si mesmo.

Compreende-se também que o Turismo, considerado um dos mais importantes fenômenos humanos da pós-modernidade, precisa convocar novos paradigmas e diálogos a fim de propor reflexões a respeito do modelo de turismo que segue a lógica atual. A “indústria sem chaminés” necessita de reavaliações com arrimo nos elementos: humanização, desenvolvimento, expressão, poder criativo e livre escolha - para ser pensada e planejada desde o contexto de uma humanização do turismo permitida por pessoas autônomas em suas vidas e viagens.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

EMPREENDEDORISMO CULTURAL DO PATRIMÔNIO EDIFICADO

Por Joselito Brilhante
Professor do IFCE - Campus Quixadá

O Brasil, em virtude de sua extensão continental e da complexa formação étnica do seu povo, possui uma das mais ricas diversidades culturais do planeta, cujo acervo de obras arquitetônicas se espalha em quase todas as cidades.
Nas últimas décadas, a exploração econômica do potencial dos diversos aspectos ligados ao patrimônio urbano arquitetônico passou a ser um dos caminhos alternativos para preservação dos mesmos. Principalmente as edificações que se localizam em espaços estratégicos para o turismo foram disponibilizadas para empreendedores ocuparem com negócios. Nelas, geralmente, foram instalados negócios relacionados ao turismo cultural, quando permitiam o acesso ao interior, e outros negócios quando interessava principalmente a preservação da fachada. Ambas gerando um extenso leque de oportunidades de geração de emprego e renda.
Mas, se por um lado essa orientação empreendedora descortina oportunidades, principalmente para pequenos negócios, deve-se atentar para o risco de a exploração mercantil do espaço patrimonial se sobressair aos valores culturais. Com isso, todo esse processo empreendedor deve adotar a educação patrimonial e a responsabilidade social como critérios de sustentabilidade tanto quanto a elaboração do plano de negócios.
É evidente que o patrimônio possibilita vantagens comparativas e também competitivas em projetos de desenvolvimento local. Assim, a preservação do patrimônio urbanístico arquitetônico agrega valor às peculiaridades ambientais e culturais, sobretudo em projetos de turismo de base local.
O empreendedorismo cultural que tem como proposta a implantação de empreendimentos nos espaços patrimoniais deve ter como marco a sustentabilidade em todas as suas dimensões.
Um modelo de desenvolvimento local centrado na apropriação empreendedora do patrimônio edificado tem que buscar uma sinergia das ações através da mobilização de toda comunidade, formando uma consciência coletiva de reconhecimento e responsabilidade junto aos empreendedores e ao projeto. O desenvolvimento de políticas públicas e de parcerias são reconhecidamente de grande importância para assegurar o êxito dos empreendimentos e garantir a mudança cultural da comunidade no reconhecimento da valorização de um patrimônio urbanístico arquitetônico.
Nesta sinergia, cabe às instituições de ciência e tecnologia desenvolver linhas de pesquisa que relacionem turismo e empreendedorismo em projetos de desenvolvimento local respaldado no turismo, como recurso para dinamizar as economias locais e avaliar os impactos gerados ao longo do tempo.
O empreendedorismo cultural do patrimônio edificado deve contribuir para o desenvolvimento local sustentável do turismo pela qualidade e competitividade, objetivando, simultaneamente, a geração de benefícios sócio-econômicos para a região e a valorização e proteção do seu patrimônio urbanístico arquitetônico como elementos da riqueza de um povo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A CULTURA ÁRABE E O SERTÃO

“Somente pode ter a capacidade de bem dizer quem é capaz de bem pensar.”¹
Por Nicolai Henrique Dianim Brion²

É difícil imaginar que os repentistas sertanejos tenham alguma ligação com a cultura sarracena. E, no entanto, têm. As raízes dos poetas-violeiros do semi-árido estão fincadas na península ibérica de doze séculos atrás, dominada pelos mouros, em especial a Espanha.

Mas como atribuir a uma comunidade que não participou efetivamente do processo de colonização do nordeste brasileiro as origens de uma das formas mais legítimas de manifestação cultural de seus artistas populares?

Tal fato pode ser explicado pelos 800 anos de domínio político sobre nossos colonizadores, isto é, os colonizadores do continente americano: espanhóis e portugueses. Um período tão significativo de ocupação gerou frutos importantes, em diversas áreas do conhecimento humano, embora os iberos tenham tentado dirimir a importância moura após sua expulsão da Europa.

Todavia, pesquisas aprofundadas sobre o tema demonstram, com o auxílio de sólidos argumentos, que não há como negar a preponderância da cultura mourisca na arte do repente. De início, apontamos o dom e o gosto pelo improviso, típicos dos beduínos. Eles versejavam sobre o concreto, o cotidiano, quer fosse o sol escaldante do deserto, o frio congelante da noite, as batalhas sangrentas travadas ou simplesmente as vértebras de seus camelos.

Em segundo lugar, os estudos das tradições artísticas sertanejas costumam fazer referência às influências do movimento trovadoresco, surgido durante o Renascimento, e não percebem, contudo, o quanto a cultura muçulmana foi determinante para o surgimento do próprio trovadorismo. Isso se torna claro quando aprendemos que os árabes, assim como os trovadores da renascença: faziam uso do canto monódico, acompanhado por instrumentos; utilizavam o recurso das rimas; exaltavam o amor cortês; e eram elevados a altos níveis sociais.

Poderíamos ainda descrever as contribuições dos sarracenos para o enriquecimento dos instrumentos musicais europeus, mais uma prova da influência daquele povo, que pode ser hoje sentida pelo repentista nordestino, mesmo que não tenha plena consciência disso.

A verdade é que temos uma ampla dívida para com a comunidade árabe, em muitos segmentos, não apenas no que diz respeito à cultura. Por ora, quando ouvir a beleza da poesia dos trovadores e repentistas, seja nas ruas e praças, seja em festivais regionais ou internacionais, lembre-se de agradecer também ao oriente.

شكرا (Shucran)


1. Luis Soler, autor de “Origens árabes no folclore do sertão brasileiro”, livro no qual o presente texto se baseia.

2. Nicolai Henrique Dianim Brion é especialista em linguística e professor de língua inglesa do IFCE, campus de Quixadá.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Planejamento Regional para o Sertão Central?

Escrito por Alexandre Queiroz Pereira

Na aurora do século XXI, o aglomerado regional polarizado por Quixadá demonstra, assim como na maioria dos arranjos desta natureza no Ceará, fragilidade e altos índices de dependência do entorno em relação ao polo. Esse modelo de planejamento mina a possibilidade de uma integração a partir do compartilhamento de funções e inviabiliza trocas intermunicipais mais equilibradas. Um ciclo vicioso se consolida: os municípios satélites não se dinamizam pela concentração de funções do polo, e concomitantemente, o polo concentra mais funções porque atrai os fluxos dos demais municípios. O que salta como possível solução para tais questões são políticas públicas baseadas na distribuição de funções complementares entre os referidos municípios.
Mudança recente no perfil regional se deve à concentração em Quixadá de serviços educacionais de nível superior, técnico e tecnológico. Além do campus avançado da Universidade Estadual do Ceará (FECLESQ) e dos campi da Faculdade Católica Rainha do Sertão, atualmente, na sede municipal instalaram-se os campi da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE). Em alguns discursos e propagandas locais, a Cidade aparece com uma função especializada: a “cidade universitária do sertão”. De fato, estas instituições geram um fluxo migratório de professores e alunos que se instalam sazonal e definitivamente na cidade. Estes novos sujeitos requerem um conjunto de novos serviços e mercadorias que diversificam a base econômica e cultural da cidade e da região.
Seria, a partir deste momento, uma nova virada socioeconômica e cultural em Quixadá, assim como acontecera à época da construção do Cedro? Todavia, mais uma vez as políticas públicas preferem a concentração à complementaridade de funções intermunicipais. Vale ressaltar que quanto mais se concentram funções, atraindo maior contingente populacional (permanente ou não), maior demanda por serviços sociais são criados, causando impactos de maneira a sobrecarregar as já precárias condições infraestruturas intraurbanas, sociais e ambientais existentes.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O patrimônio material e as novas políticas/práticas de preservação de bens culturais

Por Aterlane Martins

Em texto anterior escrevi, apresentando um breve panorama da política oficial de preservação do patrimônio cultural no Brasil, destacando as transformações ocorridas desde antiga noção de patrimônio histórico e artístico à sua conotação atual, cujo foco ampliado baseia-se na noção antropológica de cultura, portanto denominado-o patrimônio cultural, mais amplo e integrado conceitualmente.

No presente texto apresento mais particularmente alguns aspectos dos bens materiais buscando relacioná-los, em sua trajetória e no contexto contemporâneo, às políticas públicas de patrimônio.

Os bens de “pedra e cal’’, assim referidos pela socióloga Maria Cecília Londres Fonseca, referem-se comumente aos bens móveis e imóveis e podem ser identificados entres outros como edifícios civis ou religiosos, públicos e privados (residências, templos, engenhos, cemitérios, teatros, casas de câmara e cadeia etc.), monumentos (estátuas, obeliscos, bustos etc.), objetos (de arte, de culto, utilitários, decorativos, móveis etc.), bibliotecas e arquivos (conjuntos documentais de valor histórico ou artístico), monumentos naturais e paisagens (jardins, montanhas, rios, reservas ecológicas etc.), bem como artefatos arqueológicos ou paleontológicos (urnas funerárias indígenas, ruínas de construções, fósseis etc.), entre outros, desde que sejam assim considerados pela sociedade e devidamente “consagrados” através do tombamento.

Desde 1937 até então, estes bens são protegidos pelo instrumento jurídico do Tombamento. Contraditório em si, por ter o poder de cessar o direito à propriedade privada em detrimento do “interesse social”, este instrumento legal foi inicialmente utilizado com a força “policialesca” que lhe é própria – mas que verificou-se inapropriada. Esta foi a marca conflituosa que durante muitas décadas figurou no imaginário social sobre a preservação do patrimônio cultural e sobre a instituição que a executa, o IPHAN.

Apenas na década de 1970, na gestão de Aloísio Magalhães no IPHAN, as práticas de preservação buscaram uma real aproximação com a comunidade. Assim o foi nos exemplos dos Seminários realizados em Ouro Preto e Olinda quando pela primeira vez a população local foi ouvida e pôde efetivamente participar da política preservação do seu patrimônio cultural.

Por mais paradoxal que possa parecer esta ainda é uma situação recorrente quando, sobretudo o poder público municipal, inicia sua prática preservacionista. Além das “novas políticas” darem continuidade à prática impositiva da preservação que afasta a população deste bens e impede os eu uso social, é comum percebermos que a sociedade também guarda esse imaginário e o reproduz.

Embora o instrumento jurídico de proteção, o tombamento, permaneça o mesmo, as ações dele decorrentes mudaram acompanhando as transformações sócio-históricas que inseriram um novo entendimento sobre a proteção e a gestão dos bens culturais tombados, ou seja, uma preservação onde a sociedade participa efetivamente usando e ressignificando estes espaços.

Em exercício de pesquisa, recentemente levado a cabo com os alunos da disciplina Cidadania e Patrimônio do curso técnico em Guia de Turismo do IFCE, pude constatar algumas destas permanências no que tange a compreensão sobre os bens materiais e sua proteção, particularmente na cidade de Quixadá. Contudo, algumas boas apropriações das práticas contemporâneas e o desejo de participação no processo preservacionista foram demonstrados pelos referidos alunos. Este, porém, é assunto para um texto seguinte.