quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Interiorização do turismo e identidade regional

Por Eduardo Lúcio Guilherme Amaral

É inegável a condição protagonista da atividade turística no Ceará, consolidando-se como um dos nichos mais dinâmicos da nossa economia há, pelo menos, vinte anos. Passado tanto tempo, a economia do turismo local ainda possui o mesmo pilar fundamental: o sol e a praia, motivações aparentemente inesgotáveis para a manutenção do estado entre os principais destinos turísticos do país. Não há dúvida alguma de que o setor tenha se tornado mais organizado e competitivo, de maneira que nem a “descoberta” de novos filões de mercado, em outras praias tão bonitas e selvagens como as cearenses, foi capaz de abalar a hegemonia do estado nesta modalidade de turismo.
O turismo que se faz no Ceará não compete diretamente, com aquele realizado em Pernambuco e na Bahia, como se tem pensado. Ali, o mercado se alimenta de outros nichos, como o do turismo cultural, aliás divulgado de maneira muito competente pelos órgãos oficiais. Nossos concorrentes mais próximos são os estados vizinhos, mas a imagem das belezas paradisíacas do Ceará tem se imposto com mais vigor na lembrança dos brasileiros. Obviamente, é desejável ampliar a qualidade do nosso produto: não apenas em razão dos melhoramentos materiais em equipamentos de hospedagem, estradas, aeroportos ou restaurantes, mas na diversificação mesmo da oferta turística.

Parece inegável que o Ceará detém muito mais do que aquilo que nosso visitante costumeiramente é levado a experimentar. E, para além das praias, temos uma natureza diversificada, um povo criativo de sólidas tradições culturais e uma herança histórica e artística sem paralelo. Alguns estados brasileiros, como Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul sabem, muito mais do que nós, fazer deste potencial uma vantagem competitiva e, mesmo sem as nossas praias, colocarem-se afirmativamente no mercado turístico. E, olhando para eles, perguntamo-nos: quais as estratégias utilizadas para imporem-se num ramo praticamente desconhecido para nós: o do turismo cultural, ambiental e de aventura?
Partindo do pressuposto de que o turismo é uma indústria de bens simbólicos (e não materiais), cuja mercadoria principal é a da experiência vivenciada, temos que considerar a importância das representações sociais acerca da região. E, neste caso, o grande empecilho para a interiorização do turismo no Ceará é a imagem negativa que se divulga do sertão. Neste caso, visto como lugar por excelência da miséria, da exclusão e do obscurantismo político. Percebam como esta imagem destoa daquela do litoral, que é o espaço do paradisíaco, do conforto e do prazer. Não haverá, assim, grandes perspectivas para a interiorização do turismo se a questão identitária não for devidamente esclarecida e renovada. É preciso, assim, divulgar para o mundo (e para nosso próprio conhecimento) o Ceará profundo, cuja marca maior é o da autenticidade das suas manifestações populares e da riqueza de sua terra.

Não é possível, no que diz respeito à formação de profissionais do turismo, passar ao largo deste problema. Mais do que simplesmente um acontecimento “natural”, os fluxos turísticos se orientam de acordo com as demandas intencionais dos agentes do mercado (formados pelas escolas profissionais) e é possível, neste sentido, despertá-los de seu sono ancestral para este potencial, que ainda jaz esquecido.