sábado, 12 de março de 2011

Estudo qualitativo sobre as viagens turísticas na contemporaneidade (Resultados da pesquisa)

Débora Garcia, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (campus Quixadá) recentemente apresentou para comunidade acadêmica os resultados da pesquisa que teve como objetivo investigar o sentido da experiência das viagens para turistas em fruição de pacotes turísticos em viagem de cruzeiro marítimo pelo roteiro Fernando de Noronha. Através da pesquisa, a autora buscou ainda investigar o que configura turismo no contexto da sociedade contemporânea; determinar os sentidos que o turista concede às suas viagens no momento presente; e expor as possibilidades subjetivas das viagens turísticas com base nas potencialidades de ócio para os sujeitos da pesquisa.

A questão central da análise executada acerca do sentido da experiência das viagens para turistas em fruição de pacotes turísticos reflete-se nos variados comportamentos assumidos pelos sujeitos, dentre eles, em relação às práticas de lazer experienciadas pelos turistas em meio ao exacerbado consumismo contemporâneo, não só em âmbitos comerciais, mas também relacionais. Desde o momento anterior à viagem, quando os sujeitos normalmente não agem de maneira autônoma, tomando para si os sentidos de seus lazeres, passando pela escolha dos destinos, frequentemente direcionados pelo mercado das viagens, denotado nos glamorosos ambientes e espaços físicos, até o comportamento dos turistas nas viagens, constantemente, são refletidas posições que permeam as dimensões diversão, entretenimento, consumo, experenciar novidades e fuga do cotidiano.

Como resultados, constatou-se que a privação de autonomia mediante as experiências de viagem por parte dos sujeitos da sociedade contemporânea pode contribuir para a vulgarização do sentido essencial da viagem turística, uma vez que, pelas vivências experimentadas em pacotes turísticos, os resultados observados frequentemente demonstram-se perpassados por lógicas utilitaristas e consumistas.

Evidencia-se nos estudos de Bauman (1998), a existência de aspectos característicos da contemporaneidade, os quais compõem sinais próprios de nosso período histórico, a saber: identidades fluidas, consumo abundante, hedonismo, relativismo dos valores morais e frivolidade existencial. Corroborado ainda por Lipovetysk (2007), que por sua vez elenca aspectos da mercantilização dos modos de vida, a dinâmica de expansão das necessidades se prolonga, ou seja, multiplicidade das experiências, onde o bem-estar se tornou uma paixão de massa por meio de consumidores com características individualistas, identidades transitórias, numa ilimitada busca de satisfações emocionais imediatas e inovadoras. A lógica de consumo dissipa-se nas relações culturais, laborais, políticas, nas relações dos homens contemporâneos, em seus lazeres, nas suas viagens e nos mais diversos âmbitos de sua vida.

O pressuposto inicial lançado sobre o presente estabelecimento de um mercado das viagens que define, organiza, formata e homogeneíza a experiência turística, confirmou-se tanto por meio das falas dos turistas entrevistados, como por intermédio dos dados apresentados visto que identificou-se diversos viajantes do cruzeiro marítimo, seduzidos não pelas possíveis experiências, mas pelas inúmeras opções ofertadas pelo mercado, assim limitando a noção de liberdade à reposição de energia para voltar ao trabalho, e ainda um tempo livre perpassado por inúmeras atividades de consumo isento de autonomia, vontade e momentos de autopercepção.

Com referência aos sentidos que os sujeitos concedem à experiência de suas viagens, questão norteadora da pesquisa, evidenciou-se respostas que estão na dimensão do mercado das viagens: vivenciar novidades; realizar viagem em cruzeiro marítimo para Fernando de Noronha; desligar do cotidiano vivido; despreocupar, descansar e momento inesquecível, interessante, sensacional. O turismo, deste modo, constitui o seu paradigma social e sociológico atual, a forma de viagem dominante nas sociedades pós-modernas - a viagem, portanto, se reduzindo ao fenômeno turismo.

Em contraposição, mesmo diante de tantas observações de comportamentos funcionalistas e utilitaristas, constatou-se na viagem necessidades de interação e, também, momentos de contemplação na proa do navio, local afastado dos espaços onde ocorriam as atividades de entretenimento e consumo. Considerando que interagir e contemplar se configuram virtudes relevantes das viagens turísticas e que dificilmente voltamos iguais das viagens, visto que por meio delas nos é propiciado tornar mais tolerantes, sábios e menos individualistas. As viagens turísticas constituem um instrumento adicional de aprendizagem, talvez a forma mais forte e vigorosa de aprender, é uma forma lúdica de conhecer, aprender, refletir e daí acessar a si mesmo.

Compreende-se também que o Turismo, considerado um dos mais importantes fenômenos humanos da pós-modernidade, precisa convocar novos paradigmas e diálogos a fim de propor reflexões a respeito do modelo de turismo que segue a lógica atual. A “indústria sem chaminés” necessita de reavaliações com arrimo nos elementos: humanização, desenvolvimento, expressão, poder criativo e livre escolha - para ser pensada e planejada desde o contexto de uma humanização do turismo permitida por pessoas autônomas em suas vidas e viagens.