quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A tecnificação do homem ou a humanização das técnicas?

Escrito por Alexandre Queiroz Pereira, publicado no Jornal O Povo

A técnica e a tecnologia representam para muitos analistas sinônimos de modernidade e progresso. Neste sentido, a educação técnica, e com isso, a formação de uma legião de técnicos concretiza o interesse de muitos que consideram tal fato como propulsor de melhorias nas condições de vida da população. Restam-nos, todavia, elaborar algumas questões: a técnica representa um fim em si mesmo? O homem tecnificado é sensível as condições sociopolíticas contemporâneas? A educação técnicas amplia ou fecha horizontes?
A questão inicial gira em torno da inacreditável, mas divulgada, idéia de que há neutralidade nas técnicas. Estas são produzidas em pacotes e vinculam-se a interesses dominantes, principalmente, as forças do Mercado (e seus agentes principais o Estado moderno e as empresas). Tais segmentos sociais, politicamente organizam e divulgam padrões técnicos que consolidam modelos de consumo e relações sociais cotidianos.
É sabido que as transformações econômicas, políticas, culturais e territoriais jamais alcançaram uma dinâmica tão intensa como no presente. Assim, os homens da técnica precisam ir além de sua formação robóticas, laboratorial, exata e racional; a eles é necessário confrontar o humanismo, a arte e o sensível. O pensamento moderno um dia imaginou uma sociedade melhor apenas pela imposição da racionalidade aos diversos ramos da vida. No entanto, as duas grandes guerras mundiais do século XX, a destruição continuada dos ecossistemas terrestres e a ampliação da miséria, subnutrição e fome crônica, demonstraram que algo deu errado no plano modernizador.
A educação técnica não se pode descartar. Não é este o argumento. Porém, a formação dos técnicos promovida por qualquer instituição (primordialmente, as públicas) deve proporcionar, em seus currículos, além do repasse competente dos procedimentos científicos, uma visão de mundo que supere o medíocre desejo de compor o mercado de trabalho. A sensibilidade é necessária. Formemos técnicos, mas também, humanistas utópicos esperançosos por mudanças em direção da justiça social.