segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Informação, saber ou experiência?

Resenha do texto do autor Bondía, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. Campinas, pp. 20-31, 2002.

Por Débora Garcia

Em seu texto, Notas sobre a experiência e o saber de experiência (2002), Jorge Larrosa Bondía referencia o homem como um ser de informação e saber, dotando-lhe de uma condição de um ser que vive e estabelece vínculos diversos. Um modo de ser daquele sujeito como realidade concreta, referenciando-lhe como medida de uma vivencia que se estabelece a partir dos saberes quer científicos ou empíricos que objetivam a vida, o trabalho e a expressão, contudo sem necessariamente convocar elementos da experiência.
Diariamente buscamos compreender objetivamente os processos que nos rodeiam. Recebemos as informações, refletimos sobre estas e cunhamos nossas opiniões. Desta forma, nos posicionamos frente as mais diversas questões: econômicas, ambientais, religiosas, políticas, sociais, familiares, pessoais etc.
Contudo, por vezes parece que ao opinar nossos posicionamentos não passam de mera retórica, um texto criado ou um “já ouvi isto antes”. Assim dar o parecer não é somente raciocinar, exprimir ou argumentar, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que falamos e ainda ao que somos e ao que nos acontece. E isto, requer de nós, sujeitos racionais, bem mais que palavras, informações e saberes uma vez que perpassa pela experiência (ou deveria).
Bondía (p. 28) considera que a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia ocorrem inúmeros fatos, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Walter Benjamin (1991) já observava a pobreza de experiências que caracteriza o nosso mundo contemporâneo. Dir-se-ia que tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça. Nunca se passaram tantas coisas, mas atualmente a experiência é cada vez mais rara.
Por certo, esta raridade se dá devido aos excessos de informação, a incessante busca pelo saber (saber não no sentido de sabedoria, mas no sentido de estar informado e assim expor aos outros como forma de poder); aos excessos de opiniões supostamente próprias, que na verdade, geralmente convertem em imperativos; e finalmente, devido a falta de tempo uma vez que tudo o que se passa, passa demasiadamente depressa, cada vez mais rápido. E com isso se reduz ao estímulo fugaz e instantâneo. O sujeito da atualidade não só está informado e opina, mas também é um consumidor voraz e insaciável de notícias, de novidades, um curioso eternamente insatisfeito. Ao sujeito do estímulo, da vivência pontual, tudo o atravessa, tudo o excita, tudo o agita, tudo o choca, mas nada lhe acontece. (Bondía, p.24)
Desta forma, o que conseguimos é que nada ou muito pouco nos aconteça...enquanto experiência. Senão, vejamos: Depois de assistir a uma aula ou a uma conferência, depois de ter lido um livro ou uma informação, depois de ter feito uma viagem ou de ter visitado uma cidade, podemos dizer que sabemos coisas que antes não sabíamos, que temos mais informação sobre alguma coisa; mas, ao mesmo tempo, podemos dizer também que nada nos aconteceu, que nada nos tocou, que com tudo o que aprendemos nada nos sucedeu ou nos aconteceu.
No entanto, preciso dizer que não perdemos a capacidade de experenciar. Apenas a preterimos por outras induções, neste texto, acima listadas. A experiência é em primeiro lugar um encontro ou uma relação com algo que se experimenta, que se prova a partir de um ser receptivo, aberto, disposto a conhecer o perigo. E o perigo está em, fundamentalmente, saber mediar o saber cientifico, tecnicista, do trabalho e da vida humana para além dos valores utilitaristas, hoje rotineiramente experimentados. (Bondía, p.27)
Por isso, o saber da experiência é um saber particular, subjetivo, pessoal. Não devemos captá-lo aos olhos da racionalidade. A experiência não é o que acontece, mas o que nos acontece. Duas pessoas, ainda que enfrentem o mesmo acontecimento, não fazem a mesma experiência. O acontecimento é comum, mas a experiência é singular e de alguma maneira impossível de ser repetida. O saber da experiência é um saber que não pode separar-se do indivíduo. (Bondía, p.29)
Concluindo, cabe a cada um de nós, sujeitos racionais, no diário combate entre nós e o mundo, preferimos o mundo. Optando não pelo sujeito perfeccionista, ereto, seguro de si, anestesiado. Pelo contrario, resgatando nossas fragilidades, valores e virtudes outrora tão enaltecidos em nossa historia. Atravessados por informações, saberes e experiências precisamos verdadeiramente travar nossas lutas frente às questões: econômicas, ambientais, religiosas, políticas, sociais, familiares, pessoais etc. E a partir daí então, emitir nosso parecer e agir de maneira mais efetiva frente a todas as questões da vida.